domingo, 23 de junho de 2013

Esta Não é a Copa Que Nos Prometeram

 Eu, assim como a maioria do povo brasileiro, sou apaixonado por futebol, e torci muito para que um dia o Brasil pudesse sediar uma Copa do Mundo. Se não me falha a memória, foi no ano de 2008 que esse sonho começou a se tornar real, quando o Brasil foi de fato anunciado como um dos países concorrentes a sediar a Copa do Mundo de 2014.
 A euforia e expectativa eram grandes. Junto com elas vieram as promessas de que todo o país iria melhorar até lá. Melhorias no transporte público, na saúde, na educação, em segurança pública. A Copa da Fifa seria um pretexto para fazer desenvolver o Brasil.
 Infelizmente o que se vê hoje às vésperas da Copa, são gastos absurdos com construção e reforma de estádios, e quase nada investido nas outras promessas. O resto da história todos nós já conhecemos: o aumento do preço da passagem do ônibus foi só o estopim para o início da grande onda de protestos que percorre hoje o nosso país.
 Para se ter uma noção mais exata, os dados da última revisão da Matriz de Responsabilidade - uma espécie de órgão público que controla os gastos com o evento da Fifa - os gastos no Brasil com os estádios (e segundo eles também obras de mobilidade urbana e melhoria de aeroportos) já supera a marca dos R$28 bilhões.
 Consegue imaginar o que você faria com R$28 bilhões? Pois bem, com esse dinheiro seriam possíveis de se construir + de 570.000 casas populares do programa "Minha Casa Minha Vida", tendo como base que o valor médio de construção é de R$40 mil por casa. Os valores gastos no Brasil são infinitamente superiores ao que foi gasto na Africa do Sul em 2010 (R$17 bi) e na Alemanha em 2006 (R$12,9 bi).
 Não é difícil entender a revolta do povo brasileiro. Os hospitais continuam com filas enormes no atendimento, isso quando não faltam plantonistas, ou não se tem condição necessária para trabalho; a educação pública anda ruim (o Brasil é 85º no Ranking de Desenvolvimento Humano da ONU), e a violência é grande até mesmo nas cidades mais interioranas do país. Isso pra não falar do tanto de taxas que pagamos, como por exemplo o IPVA, que parece não estar sendo investido na manutenção das estradas sempre esburacadas.
 A Copa do Mundo que chegou veio apenas para sugar dinheiro público, enriquecer aqueles que já são ricos (administradores particulares de estádios, donos de hotéis, etc...) e ainda dar um lucro bom pra Fifa. Procure saber o valor médio de um ingresso, e me diga, se realmente vale à pena o custo-benefício de sediar uma Copa.

terça-feira, 18 de junho de 2013

O Que Diabos é a Tal "Cura" da Homossexualidade?

 Já virou rotina ouvir alguma polêmica de Marco Feliciano na mídia. A última dizia sobre a "cura" da homossexualidade. Me surpreende como as pessoas adoram criticar os jornalistas acusando fulano, ciclano e beltrano de manipulação, mas sequer procuram saber o outro lado da história.
 A chamada "cura" da homossexualidade existe? Pode comprar em farmácia? Todo mundo vai ser obrigado a fazer? Vai acabar com o direito das pessoas de serem gays?
 A resposta para todas essas perguntas é a mesma: NÃO! Óbvio que não, meu povo! Orientação sexual não tem nada a ver com doença, e muito menos é algo que deva ou não ser curado. Ser gay ou não, é algo vem de cada um de nós, é questão de gostar ou não de alguém do mesmo sexo, e ser respeitado por isso.
 A questão é outra, completamente diferente. Você sabia que no Brasil uma pessoa não pode procurar auxílio de um profissional da psicologia para entender melhor sua orientação sexual? Pois é, desde 1999 o Conselho Federal de Psicologia proíbe que profissionais do ramo trabalhem com pacientes que enfrentam problemas de conflito interior em decorrência da dúvida ou rejeição de sua homossexualidade.
 Vamos imaginar que um homem heterossexual comece a sentir desejos homossexuais e comece a passar por conflitos internos na sua mente: "Será que eu realmente sou, será que não sou? Algo está estranho comigo." Pois bem, esse homem resolve procurar um psicólogo, não para se curar, mas como todos nós sabemos, para buscar compreender sua própria mente, buscar dentro de si mesmo as respostas para seus problemas. Se você acompanhou o raciocínio até aqui deve já saber o desfecho da história. Este homem não terá nenhum apoio profissional de psicólogos e terá de buscar as respostas dessas perguntas por conta própria.
 Vou antecipar seu pensamento, ó leitor, e supor que você concorda que toda pessoa tem o direito de conhecer seu íntimo e tirar suas próprias conclusões de sua orientação sexual, e assim concordamos, eu e você amigo leitor, que o psicólogo não irá curar ou infectar nenhum paciente, mas apenas lhe fornecer as ferramentas que este indivíduo precisa para chegar lá.
 Chegamos então à parte política da coisa. O deputado Roberto de Lucena criou o projeto de lei 234/2011 que buscava legitimar ao profissional de psicologia o direito de atender pacientes com transtornos e conflitos internos relacionados a sexualidade (ou orientação sexual, se acharem que este último termo é o mais correto). Bem, o projeto foi então aprovado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, presidida pelo deputado Marco Feliciano, que não é nenhum santo, é bem verdade, mas que é parcialmente inocente nessa história.
 Segundo Roberto de Lucena, a mídia, que adora por apelidos nos projetos de lei e emendas, apelidou pejorativamente a medida de "cura" para a homossexualidade, contra a vontade da bancada religiosa. Você pode conferir o artigo escrito por ele no site da Folha de São Paulo para entender melhor a situação: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1205311-tendenciasdebates-pela-liberdade-de-atendimento.shtml
 Ok, voltemos então aos processos psicológicos. Como ja discutimos aqui, ninguém vai entrar num consultório de um psicólogo, conversar durante meia hora e sair de lá heterossexual. Acreditar nisso, dá forma como a mídia te faz acreditar, só prova o quanto você é ignorante. Desculpe!
 Se você prestou atenção a este texto, o que o psicólogo irá fazer no consultório é fornecer ao paciente a capacidade de por si só descobrir o que se passa em seu íntimo. E isso vale tanto para aquele que vai descobrir sua heterossexualidade quanto também aquele que vai de fato descobrir sua homossexualidade. Conseguiu visualizar onde eu quero chegar? O que determina sua orientação sexual está dentro de você. poderíamos discutir horas se isso é genético ou não, mas o importante aqui é o seguinte: A aprovação desse projeto de lei é altamente democrática. Ela apenas está sendo explorada de forma unilateral na mídia.
 Conversei com muitas pessoas no facebook sobre o tema. Quem acompanhou o raciocínio direitinho questionou: "Eu entendo, a pessoa pode tanto se descobrir homossexual como heterossexual e seguir seu caminho, ok. Mas o problema é que vão aparecer muitos pais querendo forçar seus filhos a se tornarem heterossexuais à força através desses tratamentos."
 Bom, infelizmente queridos, assim como a homossexualidade não possui cura, o preconceito também não. É claro que vão surgir sim muitas pessoas que vão querer consultar psicólogos para se verem livres da homossexualidade, mas se lá no fundo, bem lá no fundo essa pessoa tiver certeza que é gay, só vão restar duas escolhas: Aceitar e dar à cara a tapa, vencer todo o preconceito e lutar pelos seus direitos; ou se reprimir e viver a vida inteira fingindo ser alguém que não é.
 Aí a discussão é outra. É longa, e não quero entrar em detalhes. Os cristãos tem seus motivos religiosos para não aceitar a homossexualidade, e até compreendo os motivos, mas perante a lei, todo cidadão tem o direito de ser tratado com o mesmo respeito. Brancos, negros, gays, héteros, homens e mulheres.
 E mais uma vez, espero que tenha ficado bem claro: A psicologia não obriga ninguém a ser ou deixar de ser gay. As respostas estão dentro de você mesmo.